Déjà vu, mais de 120 anos depois...
Que
resta pois? Resta, como esperança, o sabermos que as nações têm a vida dura, e
que o nosso Portugal tem a vida duríssima. E se os que estão no poder porfiarem
sempre em cometer a menor soma humanamente possível de erros e realizar a maior
soma humanamente possível de acertos, muitos perigos podem ser conjurados e a
hora má adiada. O interesse de quem tem o poder (como dizia ultimamente, nestas
mesmas páginas, tratando do Brasil, o Sr. Frederico de S) está todo e unicamente
em acertar.Senão já por dever de consciência e de patriotismo, ao menos por
egoísmo, por vantagem própria e individual, por ambição mesmo do poder, o
esforço constante de um governo deve ser acertar. Entre nós têm-se visto
governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar
sempre, errar em tudo, errar por frio sistema. Há períodos em que um erro mais
ou um erro menos realmente pouco conta. No momento histórico a que chegamos,
porém, cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente
atirado ao edifício das instituições; mas ao mesmo tempo tal é a inquietação
que todos temos do futuro e do desconhecido, que cada acerto, cada bom acerto,
é uma estaca mais, sólida e duradoura, para esteiar as instituições, Toda a
dúvida está em saber se ainda há, ou se já não há, em Portugal, um governo
capaz de sinceramente se compenetrar desta grande, desta irrecusável verdade.
Eça de Queirós, «Novos Factores da Política Portuguesa», Revista
de Portugal, Volume II, Abril de 1890, págs. 526 – 541.